Devaneios pós leitura — “A Idade Decisiva”

Ana Carolina Barreto
4 min readNov 18, 2018

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“Uma coisa que descobri é que não dá para ficar só refletindo sobre a vida. A única forma de descobrir o que fazer é fazendo algo.”

Uma das grandes aspirações da juventude é a independência. Pra mim, isso sempre foi muito ligado ao conceito de “ser adulta”. Apesar de todas as piadas de boletos a serem pagos, existe um sentimento muito grande de emancipação no se sentir adulta. Criamos muitas métricas sociais e individuais para “presentear” alguma pessoa com a estrelinha da maturidade, mas acredito que é um estado que se refere muito mais a auto identificação. Ser adulta é uma percepção, que pode ser construída pelo indivíduo ou pelo grupo ao seu redor, mas só realmente assumida quando é uma identidade afirmada por si mesmo — só é adulto quando você se vê como tal.

Acho que eu ainda tenho uma imagem muito infantilizada de mim mesma. Em outras palavras: não me sinto adulta. Muitas vezes me sinto uma criança no meio de adultos. E acho que isso é porque estou acostumada a me enxergar assim. Na minha cabeça, adultos são aqueles que trabalham 8h por dia, tem casa, família, e essas outras coisas que me levam a pensar em pessoas com olheiras, pouco tempo livre e uma paixão reprimida. Basicamente o Lula Molusco. Não consigo me encaixar nessa imagem. Mas, ao mesmo tempo, não sou Bob Sponja. Tô em algum lugar no meio do caminho, mas não sei muito bem onde. E, pra ser sincera, não conheço muitas pessoas que se encaixam nessa definição de 'adulto' também.

Enfim, nem sei porque vim parar nisso. Acabei de ler o livro “A Idade Decisiva”, da Meg Jay, Psicóloga Clínica e Professora nos EUA, e senti que era necessário fazer essa reflexão. Ou, no mínimo, escrever qualquer coisa que esteja na minha cabeça no momento, mesmo se não fizer muito sentido. O livro é feito com base em relatos de pacientes e situações que a autora viveu, bem como seus estudos, e se concentra na fase de amadurecimento dos 20 aos 30 anos. Grande parte do livro é sobre pessoas que deixam as coisas para depois, e que usam os 20 anos como desculpa para curtir loucamente sem se responsabilizar por nada — como se a vida começasse aos 30. Bem, não me identifico nem um pouco. Eu nunca tive essa mentalidade na vida, sempre fui muito ambiciosa e ansiosa, sempre pensei em aproveitar o máximo esses anos para conseguir minha independência e me destacar na minha carreira — seja ela qual for. Mesmo assim, o livro me trouxe muitos momentos de reflexão valiosos sobre minha carreira, minha família, quem eu sou, meu presente e futuro.

Nos últimos meses eu tenho sentido um grande movimento de desconstrução dentro de mim. Conversei abertamente sobre ser gorda pela primeira vez, me dediquei a aprender a lidar com finanças pessoais (ainda tem muito que aprender, mas foi um começo), aprendi cada dia mais a importância da honestidade. Conheci meus próprios limites das melhores e piores maneiras; estou apreendendo a rever meus ambientes, planos e decisões. Ao mesmo tempo, tem sido a fase mais dolorosa e difícil da minha vida. Por questões físicas e emocionais não tenho conseguido trabalhar em projetos que me faziam virar a noite antes e me davam sentido na carreira. Parece que meu cérebro está cansado, com câimbra. Burnout? Talvez. Também, com certeza passei dos limites com a quantidade de coisas que eu estava tentando fazer ao mesmo tempo. O problema é que agora tem sido difícil fazer QUALQUER coisa. Com muito esforço consegui voltar a ler e me dedicar mais ativamente à mim mesma, o que é uma coisa muito difícil. Eu tenho o instinto de sempre colocar as vontades e desejos dos outros antes dos meus. Me colocar como prioridade tem sido o maior desafio — ainda mais com tudo isso que está acontecendo na minha cabeça. A multiplicidade de sentimentos tem sido muito pesada de lidar. Pra mim e pra quem está a minha volta. Ler o livro da Meg Jay aumentou minha percepção sobre tudo o que está acontecendo comigo, o que eu posso fazer com esse momento da vida e principalmente o fato de eu precisar de ajuda profissional. Tenho um bloqueio muito grande com isso, mas cada dia me sinto mais e mais encantanda pela ideia de terapia.

Além disso, eu estou me sentindo particularmente desconectada do meu corpo físico. E é por isso que eu irei começar a ler Health At Every Size, não da pra viver a vida toda com padrões que nos foram ensinados na infância, né? Acho que essa é a maior lição que eu estou tirando de tudo isso que tá acontecendo. Estou me destruindo pra construir ainda mais forte, com bases que fazem sentido para mim e que me deixam ter uma vida feliz e agradável. Não quero só seguir agindo como eu fui ensinada na infância sem nem saber se existem outras possibilidades. Quero construir meu repertório de atitudes e valores que faça sentido pra mim — e de preferencia que mude sempre com as experiências que estão passando.

O caminho é longo, muitas vezes solitário, mas eu sinto que é isso que eu preciso fazer agora. Buscar conhecimento.

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Ana Carolina Barreto

analista de dados, designer, programadora e problematizadora profissional.