30 dias sem redes sociais

Faz algum tempo que eu tenho me sentido incomodada pelo tempo que passo usando rede sociais e pela quantidade absurda de redes diferentes que eu tenho.

Ana Carolina Barreto
4 min readDec 14, 2019

Facebook, Instagram, Twitter, LinkedIn, Youtube, OpenProcessing, Behance, Medium, GitHub, WhatsApp, Messenger, Telegram.

Cada uma com seu objetivo, público e maneiras de interagir. Coisas que foram surgindo muito aleatoriamente na minha vida, que experimentei por curiosidade ou por recomendação de amigos e passaram a fazer parte da minha rotina de uma maneira que nem eu sei explicar.

Por exemplo o Facebook. Comecei a usar para jogar FarmVille (saudades) e hoje a minha única desculpa para mantê-lo é a quantidade de contatos agrupados lá. Nem mesmo o alcance orgânico ridículo e o fato de que não lembro de 85% das pessoas que adicionei me impedem de ficar scrollando por milhões de ads e compartilhamentos que obstruem minha visão de mundo e só servem para confirmar vieses e opiniões — e me fazer passar raiva no processo.

Por muitas vezes considerei deletar todas as minhas contas e começar de novo, usando apenas as que fossem VERDADEIRAMENTE relevantes para mim, mas o famoso FOMO (Fear of Missing Out, ou medo de perder oportunidades) sempre me impede de acabar com elas.

O que eu fiz?

Com isso em mente, decidi me desafiar a ficar 30 dias sem usar redes sociais.

O objetivo principal era ganhar mais clareza na relevância das minhas relações digitais e entender se eu realmente precisava de todos esses apps para ser feliz e viver em sociedade. Sempre me questionei muito sobra a necessidade de usar tudo isso e, principalmente, sobre o tempo perdido.

Logo de cara eu já sabia que não tinha como ficar sem WhatsApp e Telegram, por necessidades básicas de comunicação, e decidi continuar usando o YouTube, por ser o recurso que mais uso para pesquisar e aprender.

Com isso decidido, desativei todas as notificações, desinstalei todos os aplicativos e fiz logoff de todos os sites.

Que comece a limpeza

No começo, por diversas vezes eu só tive consciência do que estava fazendo quando já estava com a página do Twitter aberta, tentando fazer login. Ou ao pegar o celular sem objetivo nenhum, aí eu percebia que era para abrir o app do Instagram e dar uma olhada em quem viu meus stories.

Tirando esses vícios de uso, o que mais me chamou atenção foi o quanto eu comecei a me sentir sozinha. Logo nas primeiras semanas, eu fiquei bem carente e sentindo muita saudade de contato com outras pessoas. O mais maluco é que não foi saudade de pessoas específicas, era um sentir falta de contato social, bem generalizado e difuso. Comecei a perceber o quanto as interações presenciais eram substítuidas por acompanhar a vida das pessoas digitalmente — mesmo das pessoas que trabalham no mesmo prédio que eu.

Me colocar constantemente exposta a tudo que meus amigos e conhecidos escolhiam postar me dava uma sensação de conexão com eles que hoje eu entendo como falsa, pois muito raramente traziam interações relevantes. O hábito de me conectar digitalmente com as pessoas fazia com que eu esquecesse de buscar isso no mundo real.

Além disso, eu percebi o quanto estava vivendo minha vida para compartilhar. Não no sentido de estar tudo ruim e eu ficar fingindo que estava tudo bem, nunca fui de fazer isso; mais por sentir que compartilhar online era uma parte importante e relevante de tudo que eu fazia. Eu vejo que não conseguia separar quem eu sou da minha existencia digital. Não há problema nenhum nisso, se é algo que você faz conscientemente. Da maneira automática que eu vinha fazendo não me dava espaço a ter uma vida particular, pois até os meus pensamentos já se organizavam em função da exposição.

A parte mais curiosa da experiência como um todo foi perceber o quanto do conteúdo que eu consumo de notícias está atrelado às redes sociais e a outras pessoas que sigo e que essa passividade toda faz com que eu terceirize aos algoritmos e influenciadores minhas opiniões e referências. Inclusive, foi conversando com amigos de visões políticas diferentes da minha que eu descobri sobre algumas fake news que se passaram como verdade para mim.

Essa ação não pode ser desfeita

Eu ainda tenho muita resistência com a ideia de deletar minhas contas, mas acho que chegou a hora de fazer uma famigerada limpeza. Principalmente na maneira como eu as enxergo.

Portanto, dou adeus ao Facebook que já não me agrega, e estou revendo todas as pessoas que sigo no Twitter e Instagram, uma primeira tentativa de tornar o uso mais consciente. Notificações continuarão desativadas e não pretendo voltar a ter os apps no celular. Estou encarando essa nova fase muito mais como consumidora de conteúdo do que produtora, então é bem provável que eu continue aparecendo menos por aí.

Em relação as outras redes, principalmente as voltadas para o trabalho, vou deixar para decidir mais pra frente, já que minha frequência de uso é bem mais baixo e não são coisas que me incomodam no dia a dia.

Esse desafio serviu para trazer a tona muitas coisas que eu nunca tinha parado para perceber, mesmo sempre tentando problematizar tudo a minha volta e conhecendo as ferramentas que os desenvolvedores usam para criar ciclos de vício nos úsuarios. Tenho sido bem mais leve e feliz de estar menos exposta a tanta informação e pretendo continuar tentando entender e construir o meu uso de redes sociais.

Geralmente encerro meus textos perguntando o que você achou e te sugerindo que me encontre no twitter, mas não acho que isso encaixa bem aqui.

Espero que você esteja tendo uma ótima semana, até breve :)

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Ana Carolina Barreto

analista de dados, designer, programadora e problematizadora profissional.